Docentes: Diego dos Santos Reis; Maria Angélica Souza Ribeiro; Paulo Daniel Elias Farah; Rosangela Aparecida Hilario
Início: 20/08/2024 a 28/10/2024
Dia da semana: terça-feira
Horário: 19h30 às 22h30
Formato: À distância
Nº de Créditos: 06
Período de Inscrições:
Aluno Regular
Pré-matrícula: 01 a 07 de julho de 2024
Sistema Janus
Aluno Especial e Alunos UNESP e UNICAMP
Período de inscrição: 10 a 17 de julho de 2024
https://ppghdl.fflch.usp.br/inscricao-aluno-especial-alunos-unesp-e-unicamp-2o-semestre-de-2024
PROGRAMA
Ementa
A disciplina se propõe a analisar as interlocuções entre as escrevivências e a produção teórica de intelectuais que se constituíram, bem como a sua produção, às margens. Propõe-se a analisar ainda os impactos do movimento negro na constituição das epistemologias pretas. O feminino e o feminismo negro: memórias, protagonismos e resistências. O aquilombamento como estratégia para acesso e permanência na academia. Saberes e sabores de preta: a cultura da periferia fortalecendo a academia. A estética da sensibilidade: casa de preto-lugar de Bamba, todo mundo canta, estuda e avança. Espaços e lugares das pretitudes. Língua, linguagens e o pretoguês: muitas palavras e pouco entendimento.
Objetivos
O objetivo geral é colocar em pauta destacada a contribuição da intelectualidade negra, a partir de suas escrevivências e das epistemologias não presentes no cotidiano de produção acadêmica eurocentrada, dando protagonismo à produção que não apenas fortaleceu o ativismo mas também contribuiu no desenvolvimento de política pública, legislação de combate ao racismo e discriminação e reconhecimento dos saberes produzidos em espaços para além das Universidades e laboratórios. Saberes esses que eram usurpados e ressignificados por conceitos, teorias e metodologias que foram criados a partir do renascimento na Europa, mas que já existiam em países africanos como Egito, Nigéria, Marrocos, Benim e Tunísia, entre outros.
A intenção é possibilitar uma lente de análise com múltiplos enfoques e tendo como provocadores os vários fenômenos que se enredam na constituição destas intelectuais, transformam sua existência em corpo político, avançam um pouco a cada geração e permitem que várias pessoas se fortaleçam nos/com seus escritos.
A ideia é propor referências que possam dialogar com existências e produzir conhecimento que se ajuste a todas as pessoas, principalmente aos corpos que estão ocupando universidades como a USP e precisam de representatividade para se sentir pertencentes.
Objetivos Específicos:
- Avaliar o impacto das temáticas e proposições da intelectualidade negra nas pós-graduandas;
- Investigar a existência de outras disciplinas com o referencial organizado majoritariamente por intelectuais negros/negras;
- Promover uma proposta de educação antirracista que contribua para o combate ao racismo religioso e ao apagamento histórico e promova a valorização da cultura e das vivências da cultura Negra;
- Compreender o feminismo negro como um movimento social importante para possibilitar a inclusão de fato de todas as pessoas e o reconhecimento das estratégias criadas pelas mulheres negras para avançar na ocupação de espaço de poder.
Justificativa
A decolonização do pensamento urge para devolver aos lugares de reconhecimento, visibilidade e destaque pessoas que fizeram história e usaram o conhecimento ancestral como estratégia para avançar na busca do combate a várias intolerâncias como a xenofobia, o racismo em todas as suas manifestações, a transfobia, a LGTQIA+fobia e todas as formas de discriminação contra existências de que se tem pouco conhecimento. A marca que orienta a organização destas epistemologias se estrutura sobre as vivências traduzidas por meio de um processo inspirado na etnografia, na busca da compreensão, entendimento e multiplicação destes saberes, bem como a ousadia e o arrojo do pensamento coletivo a favor daqueles que a história oficial gostaria que fossem invisíveis.
Tendo como marco temporal a (des)abolição da escravatura e os marcos legais que foram construídos em torno do processo que impedia ao povo manifestar sua fé (cuja alternativa será o sincretismo), possuir terras, ir à escola e, pior, que fez com crianças recém-nascidas pretas já nascessem com uma dívida a ser “sanada” por meio do trabalho sem remuneração até os vinte e um anos deixou como herança ao povo preto brasileiro um legado de miséria, injustiças, ausências e descaso do Estado brasileiro e abandono.
Nesta perspectiva, a proposta desta disciplina é refletir como o feminismo negro - suas intelectuais e a potência de suas produções - impactou e contribuiu para que políticas como as cotas reverberassem a favor da ocupação de espaços antes negados e interditados. É interesse da disciplina também refletir coletivamente sobre como o processo de aquilombamento, com inspiração em Beatriz Nascimento e Abdias Nascimento, tem sido estratégia eficiente para fortalecer acadêmicos e acadêmicas e dar sustentação à permanência.
A fim de decolonizar o pensamento, é intenção da disciplina introduzir as feministas que estão fora das referências bibliográficas das feministas brancas em função do desconhecimento de suas associações teóricas e constituição acadêmica intelectual: árabes, muçulmanas, palestinas, africanas.
Em um momento importante para a ressignificação dos espaços de poder e reconhecimento da academia, quando as tradições de abuso e violência da produção fordista na academia estão sendo colocadas em xeque, é preciso que passemos a refletir para além dos espaços eurocêntricos de produção de conhecimento e nos comprometamos a dar voz e vez a intelectuais que cartografaram a resistência, abriram espaços e produziram a partir de suas escrevivências.
Conteúdo
Aula 01
Epistemologias Negras: entre a notoriedade e o apagamento
Tereza Santos: O carnaval como espaço de fortalecimento da identidade cultural negra
Sueli Carneiro: Enegrecer o feminismo e feminilizar o movimento negro
Aula 02
Processo de constituição e resistência das identidades negras na academia
Helena Theodoro: O candomblé como referência hierárquica do matriarcado africano
Marina Mello: Registros, memórias e histórias da (des)abolição
Aula 03
Quilombo como unidade administrativa e aquilombamento como processo de resistência
Beatriz Nascimento: Aquilombar para avançar
Abdias Nascimento: O conceito de aquilombamento à luz da contemporaneidade
Aula 04
As infâncias pretas: quem pode ser criança na escola de educação básica?
Eliane Cavalleiro: Educação antirracista para quem?
Petronilha Beatriz: Criança branca pode ser racista?
Aula 05
As identidades mulheris pretas e periféricas: as muitas maneiras de ser mulher no mundo
Elaine Nascimento: Interseccionalidade e violação de direitos das mulheres pretas e lésbicas
Jonas Alves: Você vai se arrepender de levantar a mão para mim
Aula 06
Enegrecer o movimento feminista e feminilizar o movimento negro
Marcia Lima: qual o lugar da mulher preta na política
Lélia Gonzalez: O convite para a festa brega exige silenciamento
Aula 07
Mulheres que não estão em referenciais de produção científica do Norte Global, como as egípcias Nawal El-Saadawi (1931-2021) e Mona Helmi (1958-), a marroquina Fatima Mernissi (1940-2015) e a tunisiana Moufida Tlati (1947-2021).
Aula 08
A pedagogia da transgressão: contribuições de bell hooks para uma inclusão de fato
bell hooks: Como a afetividade e a transgressão precisam pautar ações pedagógicas para as crianças pretas
Carla Akotirene: Como a interseccionalidade pauta o não-lugar das mulheres pretas
Aula 09
O feminino e o feminismo negro na academia: memórias, protagonismos e resistências
Angela Davis: Memórias de tornar-se preta e resistente
Audre Lorde: A solidão da mulher preta
Aula 10
O protagonismo das mulheres negras na organização de uma educação antirracista
Giovana Xavier: Preta nada básica
Soujorner Truth: Não seremos, pretas, mulheres
Avaliação
A avaliação será desenvolvida de forma processual e contínua, com base nos seguintes critérios: participação em sala de aula, autonomia nos estudos individuais e produção de ensaios e relatórios. Assim as avaliações seguirão a seguinte organização:
1) Avaliação formal (AF), resultado de um momento formal e específico: Leitura, sistematização e apresentação de textos baseados na bibliografia. O aluno deverá entregar no mínimo 10 comentários do texto e/ou filmes apresentados nas aulas (30% da nota final).
2) Apresentação da pesquisa desenvolvida na Pós-Graduação e proposta de articulação e interlocução com o referencial apresentado (30% da nota final).
3) Escolha de uma temática relacionada à disciplina e apresentação de um projeto nas múltiplas linguagens possíveis de serem convertidas as leituras (40% da nota final)
Bibliografia Básica
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora, v. 49, p. 49-58, 2003.
DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Tradução: Marina Vargas. 2ª edição, Rio de Janeiro: Difel, 2018.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo Afro |Latino-Americano: Discursos, ensaios e conferências/organização de Flávia Rios, Marcia Lima - 1ª ed Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir. A educação como prática de liberdade. Tradução de Marcelo Brandão Cippola. - 2ª edição: São Paulo, 2017.
MERNISSI, Fatima. The veil and male elite: a feminist interpretation of women’s rights in Islam. New York: Basic books, 1991.
RIBEIRO, Matilde. "Mulheres negras: uma trajetória de criatividade, determinação e organização." Revista Estudos Feministas 16 (2008): 987-1004.
SAADAWI, Nawal El. A Face Oculta da Eva. São Paulo, Global, 2002.
SAADAWI, Nawal El. Nawal El Saadawai: ‘Do you feel you are liberated? I feel I am not’. 11 out 2015. Entrevista concedida a Raquel Cooke. Disponível em: https://www.theguardian.com/books/2015/oct/11/nawal-el-saadawi-intervie…; Acesso em: 19 abr 2023.
SISLER, Peter F. For Tunisian Filmaker Moufida Tlatli Living in silence is...United Press International, Washignton, 9 mai 1995. Disponível em: https://www.upi.com/Archives/1995/05/09/For-Tunisian-filmmaker-Moufida-…. Acesso em: 19 abr 2023.
THEODORO, Helena. Guerreiras do Samba. Textos escolhidos de cultura e artes populares. Rio de Janeiro, v.6, número 01. P.223-236, 2009.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
CESAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Claudio Willer. São Paulo, 2020.
DO NASCIMENTO, Abdias. Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro. Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, 2003.
WOODSON, Carter G. A deseducação do negro. São Paulo: Medu Neter, 2018.
VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Ubu Editora, 2020.
SOMÉ, Sobonfu. The spirit of intimacy: Ancient African teachings in the ways of relationships. Sobonfu Some, 1997.
Artigos em periódicos
ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. Revista Estudos Feministas, v. 8, n. 01, p. 229-236, 2000.
DA SILVA JUNIOR, Jonas Alves. Um canto de resistência: imagens do desfile da Mangueira de 2019 em diálogo com a educação. REMEA-Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 37, n. 2, p. 368-387, 2020
DE ALMEIDA MELLO, Marina Pereira. Em busca da justiça cognitiva: leituras e leitoras para um processo de escolarização decolonial. Impulso, v. 28, n. 72, p. 23-32.
FARAH, Paulo Daniel. Deleite do estrangeiro em tudo o que é espantoso e maravilhoso: estudo de um relato de viagem bagdali. Rio de Janeiro, Argel, Caracas: Edições BibliASPA, Fundação Biblioteca Nacional, Bibliothèque Nationale d’Algérie e Biblioteca Nacional de Caracas. 2007.
________________. “Combates à xenofobia, ao racismo e a intolerâncias em encontros entre refugiados e brasileiros e em programas educativos de idiomas e culturas”. São Paulo: REVISTA USP, v. 114, 2017.
GUIMARÃES, Valdenia; MENEGON, Silva; ALVES, Lígia Emanuela Costa. GIRA DE ESTUDOS AFRICANOS E AFRICANIDADES E A FORMAÇÃO NA UNEGRO/CAXIAS. Revista Práxis Pedagógica, v. 6, n. 7, p. 152-169, 2021.
HILÁRIO, Rosangela Aparecida. O Feminismo Negro como estratégia para assunção de direitos as Mulheres Pretas e Periféricas.Revista_Ensaios_Filosoficos_Volume_XX.pdf (ensaiosfilosoficos.com.br).
HILÁRIO, Rosangela Aparecida. SOUZA, Vinicius dos Santos. INTERSECCIONALIDADE, EDUCAÇÃO E REPRESENTATIVIDADE: O IMPACTO DE RAÇA E GÊNERO NO PERCURSO ACADÊMICO Revista Interinstitucional Artes de Educar (uerj.br), 2021,
LUSTOSA, Tertuliana. Manifesto traveco-terrorista. Revista Concinnitas, v. 1, n. 28, p. 384-409, 2016.
YORK JR, Sara Wagner; OLIVEIRA, Megg Rayara Gomes; BENEVIDES, Bruna. Travesti Textual (insubmiss) Manifestations. Revista Estudos Feministas, v. 28, n. 3, 2020.
LEAL, Dodi Tavares Borges. Fabulações travestis sobre o fim. Conceição/Conception, v. 10, p. e021002-e021002, 2021.
RIBEIRO, Maria. KELLEN, Jéssica. HILÁRIO, Rosangela Aparecida. Raça como casta, raça como potência: a força da ciência no combate a discriminação racial. Nexo, 2023.
TRAVESTI, Florence Belladonna; DA SILVA JÚNIOR, Jonas Alves. SOBRE DIABOS, VIADOS E BICHAS PRETAS NA EDUCAÇÃO. Revista Interinstitucional Artes de Educar, v. 7, n. 3, p. 1732-1737, 2021.
Documentários e curta-metragem
Vista a minha pele. Brasil. 2011 https://www.youtube.com/watch?v=m7rLDHeIK3k
STJ 44- Encarceramento feminino. 2018 https://www.youtube.com/watch?v=JcM8eMtyXTg
A solidão da mulher negra. Programa Sai Justa. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=9NZPgVzrOTU
Flávia Pinto fala do RACISMO e MACHISMO contra as religiões de origem africana Sexta Black https://www.youtube.com/watch?v=4VebtxejcAM
#LegítimaDiferença | Mulheridades e Feminilidades Trans, com Onika Bibiana: https://www.youtube.com/watch?v=Hqcygvpl7zY
CLIPES
Cesária Evora
Angola (Official Video)
https://www.youtube.com/watch?v=ky5yjog0O0k
Clementina de Jesus
Não vadeia Clementina
https://www.youtube.com/watch?v=HI7-AYGLsqc
Elza Soares
A carne
Maria da Vila Matilde
A Mulher do fim do mundo
Ivone Lara
Canto de rainha
https://www.youtube.com/watch?v=4K17ERwSK7Q
Liniker
Zero
Mel Duarte
Não desiste negra, não desiste
Preta Rara
Audácia
Fotografias
Amazônia Negra- Marcela Bonfim
FILME
Moufida Tlatli
O silêncio dos palácios (1994)