HDL5032 - Práticas e Pesquisas Interdisciplinares (disciplina obrigatória)

Período: 19/03/2024 a 10/06/2024
Ministrantes: Eucenir Fredini Rocha; Paulo Daniel Farah; Sérgio Bairon; Silvana de Souza Nascimento
Horário: Terças-feiras, das 18h30 às 22h30
Local: Casa de Cultura Japonesa
Créditos: 8
Vagas oferecidas: 120
Vagas especiais oferecidas: 20

INSCRIÇÕES

ALUNO REGULAR (Sistema Janus):
08 a 21 de Janeiro de 2024

ALUNO ESPECIAL, ALUNOS UNESP e UNICAMP:
15 a 22 de Janeiro de 2024
https://ppghdl.fflch.usp.br/alunoespecial1_2024

Objetivos:
Esta disciplina obrigatória tem como propósito oferecer um espaço de reflexão e troca de conhecimentos entre docentes e discentes do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades, com o intuito de debater seus projetos de pesquisa e construir um campo comum de saberes compartilhados na área interdisciplinar. curso priorizará questões téorico-metodológicas apresentadas nas pesquisas dos docentes e discentes, sem se deter em uma temática específica. Valorizará ainda o diálogo interdisciplinar a respeito de questões pertinentes aos saberes de populações negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, imigrantes, refugiadas, africanas, pessoas com deficiência, pessoas trans, não-bináries e LGBTQIA+, perspectiva de gênero, culturas urbanas, rurais e periféricas, para que sejam escutadas e para que suas narrativas, saberes, temáticas, vivências e experiências de opressões e violências diversas (epistêmica, física, psicológica) bem como de resistência, autonomia e empoderamento. Pretende-se que estes saberes sejam incorporados pela universidade e valorizados também em espaços extra-acadêmicos.

Justificativa:
A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade apontam para a expansão da compreensão dos fenômenos, para além das divisões compartimentalizadas, e para uma reconfiguração de perspectivas, repertórios e recortes da realidade.
Essa articulação, além de um modo de condução da pesquisa de forma integrada, com vistas a perfazer os objetivos traçados, implica, em si mesma, um deslocamento das divisões disciplinares mais canônicas dos saberes e dos recursos teórico-práticos mobilizados no interior dos contornos disciplinares, tal como estabelecidos pelo paradigma ocidental.
A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade emergem como modo de ruptura das linhas demarcatórias das disciplinas, com seus métodos e orientações próprios, que devem ser rompidos e reconstruídos ou até mesmo superados.
Nesse campo fronteiriço entre áreas distintas do conhecimento é possível construir novas formas de ser e de agir. E somente nesse momento é que começa a se delinear uma nova episteme, um conhecimento transdisciplinar decolonial, como sugere Maldonado- Torres.
A produção de saberes na contemporaneidade demanda uma forma radical de interdisciplinaridade, como aponta o historiador de Burkina Faso Joseph Ki-Zerbo. Em História Geral da África, Ki-Zerbo afirma que a interdisciplinaridade deveria conduzir a um projeto interdisciplinar, e nenhuma disciplina se beneficia de uma abordagem individual da realidade densa e emaranhada do continente africano. Segundo o autor, as fontes da história da África, por exemplo, são nitidamente complementares; cada uma delas, isolada, transmite apenas uma imagem imprecisa do real, que a intervenção de outras fontes pode ajudar a definir.
Importa ainda “discutir as relações entre a interdisciplinaridade e a pesquisa, evidenciando que aquilo que é generalizável não são os resultados, mas os métodos de análise” (LARRÈRE; LARRÈRE, 1999 Apud TEIXEIRA, 2004).
Uma outra justificativa vincula-se à possibilidade de implementar um dos conselhos da “antropologia das ciências”: “a realização de etnografias dos processos interdisciplinares de pesquisa” (LATOUR e WOOLGAR, 1979 Apud TEIXEIRA, 2004)
A Unesco discute a interdisciplinaridade desde 1981. “No colóquio de 1981 (UNESCO, 1983), os participantes estavam preocupados em primeiro lugar com as condições e as consequências epistemológicas da interdisciplinaridade: um bom número dos trabalhos se concentra em propor definições rigorosas neste sentido. No colóquio de 1991 (PORTELLA, 1992), os pesquisadores reunidos (mais numerosos que no evento precedente) focalizaram sua atenção na construção de um projeto operacional e prático da interdisciplinaridade e de seu reconhecimento pelo mundo institucional da pesquisa, como se as questões epistemológicas estivessem resolvidas ou como se o evento, dez anos mais tarde, fosse menos de ordem científica que de ordem organizacional e institucional” (PORTELLA, 1992 Apud: TEIXEIRA, 2004)
As práticas interdisciplinares de pesquisa colocam ao menos quatro classes de grandes problemas e desafios, que concernem:
- à organização e à coordenação da pesquisa;
- à comunicação e à linguagem entre os pesquisadores;
- às ciências e à epistemologia; e
- à certificação científica do conhecimento produzido de maneira interdisciplinar. (TEIXEIRA, 2004)
Por fim, cabe mencionar que o Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades é caracterizado pela interdisciplinaridade, logo, a estrutura e o funcionamento do Programa ganharão com a oferta desta disciplina, aproximando a práxis às diretrizes programáticas planejadas.

Conteúdo:
Conhecer e melhor compreender a área interdisciplinar das Humanidades e dos Direitos para pensar as condições e as consequências de Outras Legitimidades. Enfoque teórico-metodológico da pesquisa interdisciplinar, com uma orientação decolonial e interseccional. Discutir relações entre a interdisciplinaridade e a pesquisa segundo os métodos de procedimento e análise. “Etnografias dos processos interdisciplinares de pesquisa”, em diálogo com outros saberes e formas de produção de conhecimento de populações historicamente subalternizadas. Identificar grandes classes de problemas e de desafios que as práticas interdisciplinares de pesquisa têm a enfrentar. Condições e as consequências epistemológicas da interdisciplinaridade. Conhecer e compreender a organização e a coordenação da pesquisa; a comunicação e a linguagem entre os pesquisadores; as ciências e suas epistemologias; e a certificação científica do conhecimento produzido de maneira interdisciplinar.

Bibliografia:
BAIRON, Sérgio. Interdisciplinaridade, educação, história da cultura e hipermídia. São Paulo: Edição Futura, 2002.
BOURDIEU, Pierre. Les Rites comme Actes d’Institution. In: Les Rites de Passage Aujourd’hui: Actes du colloque de Neuchátel 1981, Lausanne: Editions L’Age d’Homme, 1986, p. 206-215.
GHASARIAN, Ghristian (org.). De l’Ethnographie à l’Anthropologie Reflexive. Paris : Armand Colin, 2002.
HACKING, Ian. Entre Science et Realité, la construction sociale de quoi? Paris: Éditions de la Découverte, 2001.
HOFSTADTER, Douglas R. Godel, Escher, Bach, laços eternos. Lisboa: Gradiva, 2000.
HOLM, Jean; BOWKER, John. Ritos de Passagem. Lisboa: Publicações Europa-América, 1994.
HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2017.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e Patologia do Saber, Rio de Janeiro: Imago, 1976.
KI-ZERBO, Joseph. Os métodos interdisciplinares utilizados nesta obra. In: _____. (Ed.). História geral da África, I. 2.ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
LEROI-GOURHAN. O Gesto e a Palavra, técnica e palavra, Lisboa: Edições 70, 1985. Morin, Edgar. A Cabeça Bem feita. Bertrand Brasil, Rio e Janeiro, 2003.
Maldonado-Torres, N. Transdiciplinaridade e decolonialidade. Revista Sociedade e Estado. Vol.31, n. 1, jan/abril 2016.
NOWOTNY, Helga. Repenser la Science, savoir et société à l'ère de l’incertitude, Paris: Débats Belin, 2001.
_____. The Production of Transdisciplinarity. In: Transdisciplinarity: Joint Problem Solving among Science, Technology, and Society. An Effective Way for Managing Complexity. J. Thompson Klein, W. Grossenbacher-Mansuy, R. Haberli, A. Bill, R.W. Scholz, M. Welti (Ed). Basel/Boston/Berlin: Birkhauser Verlag, 2001, p. 67-80.
RIBEIRO, José da Silva (2003), Métodos e Técnicas de Investigação em Antropologia, Lisboa: Universidade Aberta, 2003.
_____. Antropologia Visual da Minúcia do Olhar ao Olhar Distanciado, Porto: Afrontamento, 2004.
SIROT, Jacques; NORMAN, Sally Jane. Transdisciplinarité et Genése de Nouvelles Formes Artistiques. Paris, Dégation aux arts plastiques, 1997. http://www.olats.org/OLATS/livres/etudes/ norman.htm

Forma de avaliação:
As aulas consistirão na apresentação das trajetórias interdisciplinares dos professores, bem como em debater os projetos de pesquisa

Tipo de oferecimento da disciplina: Presencial