Interdisciplinaridade

O Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da USP é caracterizado pela interdisciplinaridade, de modo que integra a Área Interdisciplinar da Capes e possui uma disciplina obrigatória intitulada “Práticas e pesquisas interdisciplinares”, que aborda o tema de forma aprofundada e que tem como propósito oferecer um espaço de reflexão e troca de conhecimentos entre docentes e discentes do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades, com o intuito de debater seus projetos de pesquisa e construir um campo comum de saberes compartilhados na área interdisciplinar.

A disciplina prioriza questões téorico-metodológicas apresentadas nas pesquisas de docentes e discentes, sem se deter em uma temática específica. Valoriza ainda o diálogo interdisciplinar a respeito de questões pertinentes aos saberes de populações negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, imigrantes, refugiadas, africanas, pessoas com deficiência, pessoas trans, não-bináries e LGBTQIAP+, perspectiva de gênero, culturas urbanas, rurais e periféricas, para que sejam escutadas e para que suas narrativas, saberes, temáticas, vivências e experiências de opressões e violências diversas (epistêmica, física, psicológica) bem como de resistência, autonomia e empoderamento. Pretende-se que estes saberes sejam incorporados pela universidade e valorizados também em espaços extra-acadêmicos.

IMPORTANTE! É necessário que toda/o/es a/o/es discentes (mestranda/e/os ou doutoranda/e/os) incluam a palavra Interdisciplinaridade como uma das palavras-chave após o Resumo da Dissertação/Tese. E no Resumo é necessário inserir a expressão "Sob uma perspectiva interdisciplinar, esta pesquisa reúne campos de conhecimento como X, Y e Z..." (explicando quais campos de conhecimento foram mobilizados) ou "Por meio de uma abordagem interdisciplinar, esta pesquisa congrega diferentes campos de conhecimento, como X, Y e Z..." ou algum texto similar que comprove a interdisciplinaridade da pesquisa de Mestrado ou Doutorado.  O PPGHDL é um programa interdisciplinar, assim é fundamental justificar por que a pesquisa foi desenvolvida neste Programa de Pós-Graduação, que defende a interdisciplinaridade e possui disciplina obrigatória sobre como desenvolver pesquisas de forma interdisciplinar.

Além de refletirmos sobre a estrutura e o funcionamento do Programa, cabe pensarmos sobre a relevância da interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade apontam para a expansão da compreensão dos fenômenos, para além das divisões compartimentalizadas, e para uma reconfiguração de perspectivas, repertórios e recortes da realidade. 
Essa articulação, além de um modo de condução da pesquisa de forma integrada, com vistas a perfazer os objetivos traçados, implica, em si mesma, um deslocamento das divisões disciplinares mais canônicas dos saberes e dos recursos teórico-práticos mobilizados no interior dos contornos disciplinares, tal como estabelecidos pelo paradigma ocidental.

A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade emergem como modo de ruptura das linhas demarcatórias das disciplinas, com seus métodos e orientações próprios, que devem ser rompidos e reconstruídos ou até mesmo superados. 

Nesse campo fronteiriço entre áreas distintas do conhecimento é possível construir novas formas de ser e de agir. E somente nesse momento é que começa a se delinear uma nova episteme, um conhecimento transdisciplinar anticolonial.

A produção de saberes na contemporaneidade demanda uma forma radical de interdisciplinaridade, como aponta o historiador de Burkina Faso Joseph Ki-Zerbo. Em História Geral da África, Ki-Zerbo afirma que a interdisciplinaridade deveria conduzir a um projeto interdisciplinar, e nenhuma disciplina se beneficia de uma abordagem individual da realidade densa e emaranhada do continente africano. Segundo o autor, as fontes da história da África, por exemplo, são nitidamente complementares; cada uma delas, isolada, transmite apenas uma imagem imprecisa do real, que a intervenção de outras fontes – de diferentes campos do conhecimento - pode ajudar a definir.

A Unesco discute a interdisciplinaridade desde 1981. “No colóquio de 1981 (UNESCO, 1983), os participantes estavam preocupados em primeiro lugar com as condições e as consequências epistemológicas da interdisciplinaridade: um bom número dos trabalhos se concentra em propor definições rigorosas neste sentido. No colóquio  de  1991  (PORTELLA,  1992),  os pesquisadores reunidos (mais numerosos que no evento precedente) focalizaram sua atenção na construção de um projeto operacional e prático da interdisciplinaridade e de seu reconhecimento pelo mundo institucional da pesquisa, como se as questões  epistemológicas estivessem  resolvidas  ou  como  se  o  evento, dez  anos  mais  tarde,  fosse  menos  de  ordem  científica  que  de  ordem organizacional e institucional” (PORTELLA, 1992 Apud: TEIXEIRA, 2004).

Como aponta documento de área da Capes de 2019, nas págs. 12 e 13:

A interdisciplinaridade se caracteriza como espaço privilegiado, em virtude de sua própria natureza transversal, indicada em seu prefixo, para avançar além das fronteiras disciplinares, articulando, transpondo e gerando conceitos, teorias e métodos, ultrapassando os limites do conhecimento disciplinar e dele se distinguindo, por estabelecer pontes entre diferentes níveis de realidade, lógicas e formas de produção do conhecimento. Para tanto, torna-se indispensável o frequente diálogo entre suas subáreas e as demais áreas disciplinares.  

A adoção desses princípios na formação de recursos humanos via práticas de pesquisa, ensino e extensão apresenta vários desafios a docentes e discentes da Área Interdisciplinar, dentre os quais destacam-se:

  • Promover a abertura para o enfrentamento de novas perspectivas teórico-metodológicas de pesquisa, ensino e inovação;
  • Atender aos desafios epistemológicos que a inovação teórica e metodológica apresenta às pesquisas e ao ensino interdisciplinares, o que requer diálogos cada vez mais estreitos entre disciplinas de diferentes áreas do conhecimento e das áreas entre si, assim como destas com as filosofias das ciências, em suas diferentes vertentes;
  • Promover a incorporação de metodologias interdisciplinares nos projetos de pesquisa dos docentes e discentes;
  • Reconhecer que diferentes concepções podem ser adotadas nas pesquisas e no ensino interdisciplinar, pois é possível construir significados distintos, valorizando e reconhecendo a diversidade que a área comporta;
  • Aprofundar as características definidoras dos conceitos de pluri, multi e interdisciplinaridade, seus diferentes contextos teórico-metodológicos, tendo em vista suas relações e diferenciações, possibilidades e limites, a fim de melhor embasar as definições de propostas de ensino e pesquisa, suas linhas inovadoras, assim como as avaliações dos diferentes programas da Área Interdisciplinar;
  • Identificar canais para a intensificação do diálogo inter e intra Câmaras Temáticas da Área Interdisciplinar, para as trocas de experiências entre os Programas e a divulgação do conhecimento interdisciplinar gerado;

Tendo em vista que um dos maiores desafios deste século é o da (re)ligação de saberes, abre-se na Área Interdisciplinar um espaço para inovação da organização do ensino da pós-graduação e da pesquisa, espaço esse que induz a formação interdisciplinar e humanista dos alunos, docentes e pesquisadores. Essa formação volta-se para o desenvolvimento e adoção de atitude interdisciplinar em suas diferentes práticas de ensino, pesquisa e extensão, incluindo-se aí a necessária inserção social da produção científica e tecnológica gerada.