HDL5047 - Oralidades, Memórias e Escutas: História Pública, História Oral e Projetos na Interdisciplinaridade

Período: 21/03 a 12/06/2024
Ministrantes: Claudia Moraes de Souza; Sandra Regina Chaves Nunes; Marta Gouveia de Oliveira Rovai
Horário: Quintas-feiras, das 19h30 às 22h50
Local: à distância
Créditos: 8
Vagas oferecidas: 25
Vagas especiais oferecidas: 5

INSCRIÇÕES

ALUNO REGULAR (Sistema Janus):
08 a 21 de Janeiro de 2024

ALUNO ESPECIAL, ALUNOS UNESP e UNICAMP:
15 a 22 de Janeiro de 2024
https://ppghdl.fflch.usp.br/alunoespecial1_2024

Objetivos:
- Apresentar um panorama crítico do debate em torno da história oral e da história pública para o contexto da produção do conhecimento interdisciplinar;
- Estudar processos de integração entre questões de raça, gênero e interseccionalidades com o trabalho em história oral;
- Apresentar e debater as relações entre memória social, tecnologias digitais e história pública a partir de interrelações entre a universidade e a sociedade civil atribuindo valor social aos saberes e experiências cotidianas das pessoas comuns;
- Estudar processos da história pública e oral e suas articulações entre memória, verdade e justiça de transição;
- Estudar processos da cultura e da memória social que têm produzido conhecimentos mobilizadores dos recursos tecnológicos em narrativas e/ou de fontes digitais;
- Realizar o debate metodológico e promover a troca de experiências vivenciadas na ambientação e/ou na produção do projeto de história oral como centro do processo de produção de memórias, escuta e registro da oralidade;
- Refletir sobre o processo de escuta, assim como sobre os processos de escrevivência (legado de Conceição Evaristo) em suas relações com a história de vida e a autobiografia;
- Produzir e compartilhar audiovisual utilizando preceitos da história oral de vida.

Justificativa:
A integração da história oral aos novos caminhos no trabalho da memória, da promoção dos saberes populares e do papel dos indivíduos e coletivos como protagonistas de suas histórias, assim como a demanda pelo uso e incorporação das novas tecnologias que promovam debates públicos e a produção de narrativas decoloniais têm sido uma demanda presente na trajetória da história oral.
Neste programa de curso esses temas se organizam a partir da relação entre memória, diferença e escuta abrindo espaço para um debate conceitual da história oral em suas interrelações com outras áreas do conhecimento – com o objetivo de integrar uma metodologia nascida no campo da história com a produção do conhecimento em contexto interdisciplinar e decolonial - e em busca da visibilização de diferentes grupos sociais e de novas narrativas.
Essa opção pelo debate entre História Pública e a HO advém do potencial epistemológico da metodologia de ambas que enfatiza (além da escuta e da valorização de sujeitos silenciados) a importância e o significado da oralidade na expressão de sujeitos das classes populares, sua identidade cultural e o testemunho de suas experiências sociais. Desta forma, como questão teórico-metodológica: reconhecemos na história oral e pública um potencial epistêmico, termo elaborado por Silvia Rivera Cusicanqui - que define a HO como um tipo específico de história – baseada na oralidade, e, comprometida com cânones de um conhecimento decolonial, que reconhece as potencialidades de múltiplas culturas (subsumidas pela episteme colonizadora ou pela razão indolente).
Buscamos a possibilidade de escutar e registrar culturas (as culturas populares, negras, indígenas, ancestrais e de resistência) com o reconhecimento de seus preceitos fundantes - informados pela palavra (oralidade), pela experiência e pela memória social - não necessariamente registrados em documentos escritos e usualmente não-reconhecidos oficialmente por estruturas institucionais.
Tratamos da memória testemunhal como uma forma de narrativa da história pessoal de vida estabelecida pelo testemunho de uma experiência marcada por violência, segregação ou sofrimento, em contextos de tragédias coletivas, discriminações, racismos, na narrativa dos exílios, confinamentos, catástrofes, processos de deslocamentos e tragédias diversas com intuito de fazer surgir espaços reveladores para o entendimento destas experiências - que é um verdadeiro gênero da história – a história testemunhal.
Nesta história testemunhal, de vida e autobiográfica buscamos promover a escuta e o ativismo na experiência de sujeitos, que, vítimas de circunstâncias traumáticas e discriminatórias qualificam e/ou requalificam suas identidades e abrem perspectivas para os estabelecimentos de narrativas de reparação.
Pretendemos assim abrir caminhos no debate das falas sobre experiências subjetivas e da vida pessoal de maneira pública e aberta através do testemunho. Construir retratos expressivos da memória – memória construída historicamente na reunião de elementos dispersos das lembranças, esquecimentos, identificações coletivas e individualidades. Uma dinâmica de emoção e razão, esquecimento e lembrança que se embatem gerando um testemunho marcado por intencionalidades e pelo tempo presente.

Conteúdo:
- A produção da história oral em contexto interdisciplinar e decolonial
- Oralidades, Memórias e Escutas: significados da escuta e da memória nos projetos em história oral e história pública
- Construindo projetos em História Oral: elaborando projetos, roteiros, realização de entrevistas
- Diferenciando processos em história oral a partir de experiências: gravação de entrevistas; transcriação, transcriação, edição, produções digitais
- Oralidade, Relações de Gênero e raça e Escutas
- Memória Social, história pública e Escutas e o direito a verdade no mundo digital
- Em busca de si e do outro: autobiografias, escrevivências e histórias de vida
- Usos das plataformas digitais na tecnologia social da memória e na produção de história pública
- Projeto de construção e produção de histórias orais de vida

Bibliografia:
ALBERTI, Verena. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro, CPDOC- FGV, 1989.
ALMEIDA, Juniele Rabêlo de. História Pública e História Oral em tempos de pandemia e autoritarismos. Entrevista concedida a Míriam Hermeto de Sá Mota, Edmilson Alves Maia Júnior e Sônia Meneses. Revista Em Perspectiva, Fortaleza, v. 6, n. 2, p. 252- 254, 2020.
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WORCMAN, Karen; PEREIRA, Jesus Vasquez. História falada: memória, rede e mudança social.- São Paulo: SESC SP: Museu da Pessoa: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.

Forma de avaliação:
Através da Metodologia dos Projetos desenvolveremos coletivamente entrevistas em história oral como ferramenta propícia em revelar a história e a memória - memórias coletivas e percepções subjetivas resultantes das experiências vividas no contexto da vida social. Tomando as fontes orais como material empírico, produzir em grupo histórias de vida e autobiografia em audiovisual. O processo e os resultados serão avaliados considerando a participação, apropriação de conceitos, organização de projeto em história oral, produção de roteiro e produção audiovisual.
AV1 = Participação + produção e apr

Tipo de oferecimento da disciplina: Não-Presencial